MITOS TITÂNICOS MOTA, Marcus. Mitopoemas. Lisboa: Poesia Fã Clube, 2020.
Falei em sala de aula hoje de uns mitos gregos que são pequenas cenas de tortura. Eu elaborei uns poemas sobre isso e falei sobre eles na introdução de meu livro Mitopoemas.( Lisboa: Poesia Fã Clube, 2020). Link: https://www.academia.edu/43119141/Mitopoemas_2020_
Eis o texto da introdução ao livro que fala desses mitos:
“Proponho-me a desenvolver um ciclo de poemas que explorem certos relatos míticos da antiguidade com pouca ou quase nenhuma expressão literária em sua recepção na tradição artística pós-clássica.
Trata-se de um aglomerado de imagens com referências a sons, movimentos e pensamentos relacionados com os Titãs, ou divindades não olímpicas.
O material mítico em torno dos Titãs é especial: contrariamente aos deuses olímpicos (Zeus, Afrodite, Poseidon entre outros - ou seja, o Panteão olímpico), considerados bem aventurados e felizes por Homero, os Titãs apresentam traços de uma bizarra excepcionalidade: segundo K. Kerenyi ‘os titãs eram deuses de uma espécie que só tem função na mitologia, a função de derrotados'.
Tal derrota relaciona-se com a titanomaquia, luta entre deuses mais antigos, os Titãs, e os novos deuses, liderados por Zeus. Esse motivo da luta entre potências cósmica encontra-se em poemas como o épico babilônico Enuma Elish e na construção da figura do bíblico Lúcifer, por exemplo.
Talvez por isso tenha havido uma atração menor na tradição literária em representar este anti-heroísmo, essas legendas do fracasso, do murmúrio, do lamento, das sombras.
Mas, uma exegese mais atenta dos fragmentos escritos que registram explorações artísticas nos fornecem impulsos criativos para redimensionar a intensidade e profundidades dessa trama imagética fundamental. Ainda mais
que estas figuras que se situam nas fronteiras entre deuses e homens, atribuiu-se a elas a posse de um conhecimento perigoso, que abalaria a ordem do universo.
O Titã mais conhecido é Prometeu. Utilizado por Hesíodo, Ésquilo, Goethe, Kafka, o relato de Prometeu, que, como os demais Titãs, não chega ao Olimpo, expõe uma divindade que partilha características dos seres não divinos: estar sujeito à morte e ao sofrimento. A sua cena típica, como a de muitos outros titãs ou personagens a ele relacionados, é a de estar detido em uma ação que nunca se completa, como que suspenso do tempo e do espaço.
Essa suspensão, como um quadro, é acompanhada por uma série de invectivas contra as divindades, contra uma existência que sobrepõe o pior da eternidade e o pior da finitude: viver para sempre fazendo ou padecendo a mesma coisa.
A moldura titânica, ou seja, essa contradição entre inação e movimento, além de determinar a figura de Prometeu, encontra-se em personagens como Atlas, Sísifo, Tântalo. Imóveis ou reduzidos a uma ação repetitiva, as obscuras figuras se põe a pensar, a acusar, a lamentar, transformando o cotidiano de privações em poesia. Este é o tema dos poemas que vou procurar desenvolver neste projeto.
Vou trabalhar com três figuras pouco exploradas nessa ‘moldura titânica’: Atlas, Íxion e Tântalo.”
Então, há as figuras infernais, em ações eternas, castigos, tendo de repetir sempre. São as mais famosas: Prometeu, Atlas, Sísifo, Íxion e Tântalo. O que para nós é inferno nesses mitos é o fato de estarem as figuras presas a rotinas de ações.
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